“Veja! O inverno passou; as chuvas acabaram e já se foram. Aparecem flores sobre a terra, e chegou o tempo de cantar; já se ouve em nossa terra o arrulhar dos pombos" (Cânticos 2:11-12).
O inverno passou, deixando a tela do horizonte fria e nublada nas mãos do Artista, que se põe a pintar o quadro de um novo tempo. Em cada gotícula de seu borrifar de cores, abrem-se flores e em instantes, eis que surge a primavera, a arte viva.
Sobre a terra, o Criador aplica a seiva de sua divina aquarela, contornando relevos com as águas da última chuva que descem da montanha. O vento fresco lança tinta em todas as direções, espalhando sementes nas correntes de ar.
O Artista rabisca o vento e harmonicamente destaca aves voando no azul do céu; desenha insetos coloridos que povoam os jardins; pinga pontinhos amarelos com pétalas vibrantes sobre a grama verde; pinta campinas repletas de beleza com árvores de copas alaranjadas. E quando a manhã de sol vem anunciar a mudança de estação, o sabiá louva a Deus, anunciando a chegada da majestosa arte da primavera, enquanto o Divino Artista ainda faz surgir o beija-flor, para alegrar seu planeta jardim. A obra reconhece o Autor e sorri diante de tanto esplendor.
É tempo de florescer, de boas ações, de gentis palavras, de amar a Deus de todo o coração, com a alma, com entendimento, de se apaixonar pelas coisas mais simples e reaprender a amar.
A primavera nos diz na linguagem da flor, que uma flor pode falar por nós e revelar sem palavras, os sentimentos que os lábios nem sempre conseguem expressar, mostrando que sentimos saudade, que o amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 1:7). Mas se precisarmos dizer algo para alguém, que a delicadeza da flor nos ensine, a arte da primavera.
Tão afogueado quanto delicado, Salomão recita a paixão correspondida pela amada de maneira poética, associando a estação de frio ao tempo que já passou e comparando o florescer da primavera, ao novo tempo de felicidade que espera viver, em seu caloroso relacionamento conjugal (Cânticos 2). Nesse clima inspirador, não se sabe se é a arte que imita a vida ou se é a vida que imita a arte da primavera.
"E tu, pecador que vagueias, que fazes ao teu Criador? Não achas momento em que cantes um hino de glória ao Senhor! Nos céus e no mar e na terra, nos bosques, nos prados em flor, no fragoso alcantil, na amplitude celeste, um hino ressoa ao Senhor!" (Um Hino ao Senhor - NC)
Que floresça no âmago de nossas almas a esperança da nova estação, novas oportunidades em todas as áreas da vida, despertando afetos adormecidos e sobretudo, a fé em Deus. Que o Espírito Santo nos ensine a "arte de sorrir, mesmo quando o mundo diz: não", como diz a canção de Maria Bethania, pois isso também é arte da primavera.
Em uma noite de estrelas, o Artista se pintou na tela em tons de vermelho sangue, para salvar sua obra perdida naquele Jardim chamado de Éden. Por sua graça e amor, Ele veio para nos replantar em um novo jardim, onde as flores não morrem, onde a vida é eterna.
Viva a arte da primavera!
Rev. Ailton de Oliveira