“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. [...] Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;” (Eclesiastes 3:1 e 6)
Destemido e bem humorado, Vitor Negrete era um alpinista extremamente técnico, do tipo que fazia piadas com as aventuras perigosas. Ele dizia para sua mãe, que subia montanhas só para ficar mais perto de Deus. Segundo os jornais, ele era um pai atencioso e um marido dedicado, embora tivesse que se ausentar durante os exercícios de escalada. Seja qual for o tipo de atividade, o indivíduo que consegue ser intenso no trabalho e ao mesmo tempo, comprometido com os assuntos de casa, é uma pessoa admirável, pois a vida moderna é muito agitada.
No auge do vigor físico, Vítor decidiu escalar o Monte Everest e quando já estava a 8.850 metros de altura, precisou lutar contra a morte, dando um passo trêmulo de cada vez, desgastando ossos e nervos nos poucos metros que faltavam para chegar no topo. Ele mal suportava o vento gelado e a falta de oxigênio que o deixava quase sem consciência. Seu sangue podia congelar a qualquer momento, mas depois de tanto investimento, nada o faria desistir. Até que, finalmente ele conseguiu, tornando-se o primeiro brasileiro sem equipamento de oxigênio a desafiar a “Zona da Morte”, porém, teve que ser resgatado pelos socorristas. No dia seguinte, 19 de maio de 2006, Vítor Negrete faleceu de exaustão.
Teria ele escolhido o momento errado de subir à montanha? Até que ponto vale a pena colocar em risco a saúde ou privar-se de passar mais tempo junto à família, por causa de um sonho profissional? No caso do Vitor, a família perdeu o pai, pois sua esposa e os dois filhos não puderam nem se despedir dele, pois o corpo foi sepultado no Everest, um lugar onde todo propósito deve ser cuidadosamente calculado, onde um passo errado beira o céu, onde as perdas são definitivas e onde lançar fora o sonho aventureiro pode ser a coisa certa a se fazer.
Permita-me trazer a história de Vitor Negrete, para refletirmos sobre a realidade das famílias. Escalar um sonho particular é semelhante a uma montanha que escolhemos nos dedicar, pois ela desgasta sua saúde sem garantias de sucesso. Há pessoas que só pensam no sonho particular e se esquecem que em casa: existe uma esposa ou um marido precisando de companhia; existem filhos precisando do acompanhamento dos pais; existem pais precisando do apoio e gratidão dos filhos; existem avós precisando de carinho e providências; existe uma família sentindo sua falta.
Agora, quero me dirigir às pessoas que dão prioridade ao trabalho e relaxam na educação dos filhos: existe recompensa humana que justifique a ausência de um pai ou uma mãe, enquanto os filhos precisam de atenção? Há momentos na vida, que precisamos desistir do sonho, para cuidar da família.
Dos atletas que conquistam o Everest, sem equipamento de oxigênio, 50% morrem. Sabe-se também que muitas famílias se dissolvem por causa de um pai ou de uma mãe, que gasta mais tempo com outras coisas, porque a relação familiar requer presença, conversa e afeto.
O Rei Salomão foi um sonhador ocupado com grandes empreendimentos, entretanto disse: "tudo tem o seu tempo determinado". Portanto, saiba que o "tempo de buscar" termina, quando chega o "tempo de perder ou de lançar fora" aquilo que pode atrapalhar a felicidade do lar. Recalcule os seus limites, porque há pessoas que precisam da sua força.
Vá com calma! Antes de fazer qualquer coisa, busque a orientação do Pai do Céu em oração e acolha sua Santa Palavra em seu viver, pois todo o resto pode esperar. "Há tempo para todo o propósito debaixo do céu". Seu sonho particular é uma montanha, sua família é o oxigênio e você não pode viver sem ela.
Rev. Ailton de Oliveira